CLARA DE ASSIS
(Clara de Assis sentada à direita, Francisco de Assis ao centro e duas irmãs à esquerda)
Filha de Favarone Scifi e Ortolana Fiumi, Chiara Scifi, ou Clara de Assis, nasceu em 1193 na cidade de Assis, Itália, em uma época em que a sociedade era organizada em feudos e as pessoas deviam favores e obediência em troca de receberem proteção e assistência.
A independência e autonomia vividas por Clara e Francisco de Assis naquela época foram entendidas como "pobreza". Na verdade, era a liberdade cristã, que ela expressou em uma de suas cartas: “um vestido não pode lutar com um nu, porque quem tem de onde se segurar cai por terra mais rapidamente”. [1]
Clara renunciou às vantagens da herança de família e reverteu à assistência e socorro aos necessitados [2], como também recusou a assistência da igreja. [3]
A vida reclusa não a impediu de trabalhar, o que ela sempre incentivava nas irmãs que conviviam no mosteiro de São Damião [4]. Clara fiava e tecia; as irmãs costuravam. Ela também fazia caixas de cartão para guardar as peças tecidas e as forrava com seda. Mesmo estando doente e sem forças para se levantar, sentava-se na cama com a ajuda das irmãs e, protegida por almofadas, dedicava-se a trabalhos manuais, combatendo a ociosidade. [5]
Essa forma de entender o fato econômico em um grupo religioso subverteu as abordagens usuais da época. Por isso havia muita dificuldade em ser compreendido. Relatos documentados da época comprovam que elas não recebiam nada e viviam do trabalho de suas mãos. [6]
Desde pequena, Clara se dedicava a assistir aos necessitados. Com o tempo, ficou conhecida na cidade e Francisco de Assis a incentivou no trabalho cristão. Foi em 1211 que ela formalizou seu compromisso na pequena capela da Porciúncula. Quando esteve hospedada no mosteiro de São Paulo, das freiras beneditinas, resistiu à busca dos parentes, que queriam levá-la de volta para casa. Após passar por Santo Ângelo, foi definitivamente para o mosteiro de São Damião, onde morou até o seu desencarne, em 1253.
Enquanto esteve viva, foi a coordenadora das tarefas do mosteiro. Era solícita quando ensinava algo às irmãs, e o fazia com prudência e cuidado. Seus escritos mostram que ela foi professora do Evangelho, ensinando objetivamente a moral cristã na palavra e na atitude. Para ela, agir pelas virtudes levava as irmãs, tocadas pelo exemplo, a obedecer não pelo cargo que ela ocupava, mas pelo amor [7]. Ela própria, que foi abadessa do mosteiro de São Damião, não vivia uma relação dominante com as irmãs, mas preferia ser também chamada de irmã. Foi a servidora das demais, lavando seus pés ou levantando-se à noite para cobri-las.
Clara ensinou que quando houvesse conflitos, a reconciliação e o perdão tivessem prioridade sobre a oração [8]. Também foi bastante precisa ao ensinar a fé raciocinada, para que não se acreditasse em quem tentasse desviar do caminho escolhido, para que não se seguisse o conselho de quem sugerisse outras iniciativas diferentes das lições do Evangelho. [9]
Ela manifestou a mediunidade de cura diversas vezes, restabelecendo a saúde de várias pessoas durante sua vida [10]. Muitos enfermos eram enviados ao mosteiro de São Damião pelo próprio Francisco de Assis. [11]
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[1] 1ª Carta a Agnese de Praga - 1 LAg, 27;
[2] Legenda de Santa Clara - LCL, 13;
[3] Legenda de Santa Clara - LCL, 14;
[4] Regra de Santa Clara, VII,1-5;
[5] Bula de Canonização, 16;
[6] Carta de D. Tiago de Vitry, out/1216: FF, 2205.2207;
[7] Regra de Santa Clara, IV,10;
[8] Regra de Santa Clara, IX, 9
[9] 2ª Carta a Agnese de Praga - 2 LAg, 14-17;
[10] Bula de Canonização, 18;
[11] I Fioretti, capítulo 33.
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